O mérito de um transporte público mais eficiente, seguro e abrangente é, ou deveria ser, resultado de ações conjuntas dos diversos setores atuantes neste sistema.
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Presentes na vida de muitos e no imaginário de tantos outros, os ônibus articulados são, há várias décadas, símbolos imponentes do que um bom sistema de transporte de passageiros precisa ter para conseguir uma visão satisfatória da sociedade como um todo.
Surgindo como resposta a uma promessa para a redução da superlotação dos ônibus do sistema integrado de Fortaleza, os mais recentes ônibus articulados foram implantados no ano de 2014, causando furor entre empresários, usuários e busólogos.
Vale ressaltar que esta não é a primeira vez que a capital cearense contou com os extra-pesados, pois um total de quatro ônibus chegaram a operar pela Companhia de Transportes Coletivos (CTC) a partir do ano 1990, sendo desativados por volta do ano 2000. Desta vez, em 2014, oito ônibus articulados 0km foram adicionados ao Sistema Integrado de Transporte, possuindo uma configuração diferenciada que trazia mais conforto ao usuário, sendo equipados, inclusive, com ar-condicionado.


Aqui o primeiro ponto a refletir: a capital cearense não recebeu, até a data de publicação desta matéria, mais ônibus articulados novos ou usados após estes oito citados. Aliás, atualmente, sete dos oito ônibus articulados simplesmente desapareceram das ruas cearenses, sendo precocemente vendidos para uma cidade que mostra que realmente investe no transporte: Manaus, capital amazonense.
O último ônibus remanescente de um tempo que prometeu ter uma real solução para a lotação está em operação na empresa Santa Cecília Transportes, com chassi Volvo B340M, suspensão pneumática, ar-condicionado e motor central. O ônibus, de prefixo 36400, é efetivo na linha 222 - Antônio Bezerra/Antônio Sales/Papicu.
A questão da lotação ainda é um problema, e só não é mais grave por conta da queda da demanda de passageiros, mas isso é uma pauta para outra discussão. Não existe previsão de aquisição de novos ônibus articulados e, sendo assim, ao usuário é oferecido apenas os ônibus leves, semi pesados e poucos ônibus ditos "pesados" com motor maior e carroceria mais longa que um semi-pesado, o que torna o sistema ainda mais dependente de novas ações que permitam ao usuário (principal interessado) entender que o uso do transporte público é melhor e mais atrativo.
Caro leitor, caro gestor, caro empresário, como é possível trazer mais usuários fixos ao sistema se o sistema não se reinventa para criar soluções verdadeiramente adequadas de melhoria ao usuário? Se os ônibus articulados não conseguem rodar com a justa eficiência aqui na capital cearense, como estes mesmos veículos conseguem rodar por tanto tempo em outras capitais do país?
Aqui temos um ciclo interessante: o sistema tem cada vez menos usuários e, por ter menos usuários, passa a ter menos capacidade de investimentos... e é justamente por ter menos investimentos em melhorias que se torna cada vez menos atrativo e perde usuários... esse é um ciclo que tende a piorar. A principal maneira de sair desse ciclo ruim em que o sistema se encontra é agir de forma diferente tomando ações diferentes.
Uma mobilidade urbana eficiente não é feita apenas com ônibus articulados, mas estes são um dos principais fatores de melhoria, lógico que em conjunto com faixas exclusivas e corredores como BRT, integração entre modais, melhor capilaridade, segurança física e tempo de deslocamento.
É certo que apenas a chegada de novos ônibus articulados não será o único fator de mudança, mas sem isso, a tendência não é positiva.
Redação: MOB Ceará
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MOB em Debate
A mobilidade urbana em Fortaleza há muito tempo se desenrola com ações tardias e que pouco impactam no incremento da demanda no sistema, mas o cenário agora é pior com a redução gradativa da demanda. De um lado temos gestores que realizam ações atrasadas (novas linhas, corredores de ônibus, terminais, veículos com AC, dentre outras) com viés muitas vezes politiqueiro e imediatista, empresário "insatisfeitos" com a receita oriunda do sistema mesmo com os cortes de custos (fim da função de cobrador, flexibilização da idade média da frota, parametrização das operações nos veículos, subsídios, etc) mas não tem maior ousadia para investirem em veículos maiores e menos poluentes e, de outro, os passageiros que diante do quadro atual dos serviços ofertados (redução da frota, tempo de espera elevado, desconforto nos coletivos, etc) não tem mais esperança de melhorias impactantes no serviço e que em franca "fuga" preferem utilizar outros modais ou adquirirem veículos próprios. Ainda há de se observar com o sistema é "burro" com modais concorrendo entre si, integração metropolitana praticamente inexistente, bilhetagem eletrônica confusa que exige uso de mais de um tipo de cartão, constante insegurança dentro e fora dos coletivo, dentre inúmeras questões que fazem o sistema de transporte ser cada vez mais repelido perante a população, a ausência dos veículos articulados é uma das pontas deste "Ice Berg".
ResponderExcluirExcelente editorial!! 👏👏
ResponderExcluirOutras capitais ainda tem articulados e compram em "grande escala" como Recife
ResponderExcluirSão Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba. E outras que ainda tem alguns tanto no sistema municipal quanto no metropolitano no caso de João Pessoa e Natal, é uma vergonha para capital cearense ter só um brt sendo que outras capitais tem no mínimo 5 desses veículos mesmo algumas não terem o sistema brt
Pior é ver o mobceara tomando as dores do empresariado mercenário! Disparadamente o pior transporte público entre as grandes capitais brasileiras. Fortaleza: OF1519, banco de plástico, janela de correr, e tarifa absurdamente cara
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