Caio Vitória: Mais que um ônibus, uma lenda

Em mais uma pesquisa histórica - a última de 2015, o MOB Ceará desvenda a trajetória de um dos mais importantes e lembrados modelos de carroceria de ônibus do Brasil: O lendário Caio Vitória.


Com projeto datado de 1987 e lançamento oficial em 1988, o Vitória surgiu para ocupar a vaga do modelo urbano Amélia, ambos produzidos pela Companhia Americana Industrial de Ônibus (CAIO).

As primeiras unidades do ônibus saíram da fábrica da Companhia Americana Industrial de Ônibus, em Botucatu (SP) no ano 1988 e causaram furor entre clientes e concorrentes, por causa de suas soluções, que aliavam a estética moderna e grande funcionalidade.


O lançamento do Vitória também foi uma tentativa de garantir sua liderança na produção de ônibus no país, que estava sendo ameaçada por outros fabricantes - principalmente a Marcopolo, com seu bem-sucedido modelo Torino.

A tentativa da Caio foi uma tacada certeira, pois o Vitória foi um dos ônibus mais vendidos no país. Entre 1988 e 1995, período de sua produção, foram encarroçados 28 mil ônibus modelo Vitória, sendo que, em alguns períodos, chegaram a ser produzidas 280 unidades ao mês, um recorde para a indústria do ônibus no Brasil.


A exemplo de seus antecessores - Jaraguá, Bela Vista, Gabriela e Amélia, o Vitória foi produzido em duas unidades fabris da Caio: a matriz no município de Botucatu e a filial "Caio-Norte", em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife-PE.

O encerramento da produção do Vitória ocorreu em meados do ano 1995, o mesmo ano do lançamento de seu sucessor, o Alpha.


Detalhes

Estruturalmente, o projeto do Caio Vitória possui soluções que beneficiam a manutenção e a substituição de peças que provocam grandes mudanças, como, por exemplo, a instalação de uma janela no lugar de uma porta ou vice-versa.

Um dos detalhes que comprovam a praticidade é a adoção de uma estrutura quase idêntica nos dois lados da carroceria.


Observe no desenho abaixo, que as distâncias das janelas dos passageiros são idênticas, e o local que é ocupado por uma porta em um dos lados, possui a mesma largura da janela do lado oposto.


Na parte estética, o Vitória sofreu diversos pequenos ajustes para se manter no patamar que o tornou um sucesso de vendas. Estas mudanças ocorreram com o passar dos anos e também eram ligadas à região que o veículo iria atuar, bem como às preferências dos clientes, que eram atendidos de forma personalizada, dependendo da situação.

Basicamente, o Caio Vitória pode ser classificado em duas versões, que se distinguem por detalhes meramente estéticos, ou seja, sem ocorrer mudanças estruturais.Vale ressaltar que a classificação a seguir não é oficial e meramente didática, afim de distinguir modificações básicas e generalizadas, ou seja, as características detalhadas não são regras para cada versão.

Vitória I (1988-1993)

Vitória 1988
Os detalhes gerais desse modelo do Caio Vitória estão no para choques largos e com vincos, as portas basculantes de folha única e a traseira construida em fibra de vidro com centro em alumínio rebitado.

Comparativo (com e sem a peça central em alumínio)
Frisando também que, nos primeiros anos de produção do modelo, a região localizada entre os faróis dianteiros não possuíam aberturas da grade de ventilação (ver foto Vitória 1988 acima), e, nesse local, as empresas costumeiramente pintavam o número de ordem do ônibus, ou mesmo o nome da empresa.

A região supracitada foi alterada nos modelos 1989/90, com a adoção de grades em toda a tampa dianteira.


Vitória II (1993-1995)


Pouco a pouco, o Caio Vitória foi ganhando modificações nos anos de 1993 e de 1994. Entre outros detalhes, o modelo ganhou um para choque mais discreto, similar ao do antecessor Caio Amélia e portas pivotadas duplas, tanto nas versões estreitas (80 cm) como nas mais largas (110cm). As portas basculantes passaram a ser oferecidas como opcional e geralmente eram mais aceitas nas versões com largura mais ampla, como a foto abaixo.

Vitória 1995 com portas basculantes
As primeiras versões do modelo, que é chamado nesta matéria como "Vitória II", também possuíam um distanciamento entre o para choques e a caixa de faróis com valor similar na frente e traseira (foto abaixo), enquanto nas edições posteriores, o para choques traseiro "subiu" um pouco, ficando mais próximo das lanternas (foto acima).


Mais um detalhe interessante é que na versão produzida pela Caio Norte em fins de 1994, a lanterna traseira original foi substituída pelo modelo de farol "MBB 688.544.7203", bastante conhecido por estar presente na traseira de vários caminhões Mercedes-Benz e de alguns outros ônibus, como o Engerauto Thor, Marcopolo Torino LN e Torino GV.


Com a mudança, diversas empresas modificaram a traseira de seus Caio Vitória mais antigos, adaptando a lanterna que tem bastante oferta no mercado e sacrificando a bela caixa de farol original de seis segmentos. Atualmente, encontrar no Ceará um Vitória com suas lanternas originais é relativamente difícil.


Para finalizar esta divisão sobre as versões do Caio Vitória, uma prova que esta segregação não era mantida dentro da própria fábrica, já que alguns ônibus de São Paulo, da Viação Santa Brígida eram entregues 0km com para choques chanfrados, iguais às primeiras versões do lendário ônibus da encarroçadora paulista.

Confira abaixo uma imagem que prova esta contradição, de adotar para choques largos originais em um Vitória fabricado no ano de 1995!

Vitória 1995 com para choques chanfrados

As versões especiais

Intercity

Criada pouco tempo depois do lançamento do Vitória urbano, a versão Intercity foi para as ruas com finalidade de suprir a necessidade da demanda por ônibus para fretamento, com maior conforto, comparado à versão urbana.

Como principais diferenças visuais, o Caio Vitória Intercity possuía portas pantográficas, amplos para-choques com faróis e piscas integrados, teto com frente rebaixada e aerofólio traseiro.


O Vitória Intercity chegou também para ocupar uma lacuna deixada pelo Caio Itaipú, versão interurbana do Caio Gabriela.

Vitória FE

O Caio Vitória FE é um modelo especial construido em duralumínio, para atender preferencialmente às empresas de cidades litorâneas que sofriam com problemas ligados à maresia.

Com grande resistência à fadiga a temperatura ambiente, o duralumínio é uma liga metálica composta por alumínio, cobre e magnésio. O material foi utilizado inicialmente na indústria de ônibus pela encarroçadora carioca Metropolitana, absorvida pela Caio em 1976. O material também foi amplamente utilizado da Companhia Manufatureira Auxiliar, ou CMA, em seus modelos, que foram projetados para atender a Viação Cometa.


A versão especial do Caio Vitória é facilmente distinguível por conta da adoção de rebites aparentes ao redor das janelas, e foi amplamente aplicada na frota de Fortaleza.


O Caio Vitória no Ceará

O grande sucesso do Caio Vitória também transparecia na frota de ônibus urbanos de Fortaleza e região metropolitana.

Praticamente todas as empresas que operavam em linhas regulares, adquiriram o Caio Vitória em algum momento de sua história, sendo que, a maioria deles, era oriundo da fábrica da empresa em Jaboatão dos Guararapes (PE), mais conhecida como "Caio-Norte".

Os primeiros modelos

A maioria das empresas de ônibus de Fortaleza adquiriram o modelo da Caio apenas em 1989, entretanto, algumas empresas, como a Santa Maria e São José de Ribamar, foram pioneiras ao adquirir o Vitória em 1988, mesmo ano de lançamento do ônibus.


Os clássicos

O Caio Vitória deixou também na capital cearense alguns ônibus emblemáticos. A CTC, foi uma das empresas que mais adquiriram ônibus Caio Vitória no Ceará: Ao todo, fizeram parte da frota da companhia municipal, um total de 107 Vitórias, sendo que 53 deles tinham câmbio automático e chassi Volvo B-58.


Outros exemplares também marcaram época e a memória dos amantes do modelo na época da circulação de cada um, como os Scania com motor dianteiro das empresas Iracema, Bons Amigos, Gerema, Salete e Clotran, assim como os OF-1618 e OF-1620 com a belíssima pintura da Viação Fortaleza na década de 1990 e os OF-1315 da Auto Viação São José, entre outros, conforme imagens a seguir:


A Empresa Vitória de Caucaia (CE), ao divulgar a aquisição de suas unidades do veículo Caio, abusava do trocadilho causado pela coincidência do nome da empresa caucaiense e o modelo de ônibus. Isso aconteceu desde 1988, ano que a empresa adquiriu seu primeiro Vitória, com prefixo 91.


Menção honrosa para o 141 da empresa, um dos poucos Caio Vitória no Ceará a possuir chassi Scania L113CL com motor traseiro. Além dele, a Empresa Iracema de Fortaleza também tinha uma unidade com este modelo de chassi, com prefixo 07206.


Os últimos Vitória 

Os ônibus que finalizaram a era do Caio Vitória 0km em Fortaleza foi um lote composto por quatro unidades que pertenciam a Empresa Nossa Senhora da Salete. Os ônibus tinham prefixos 18010, 18037, 18049 e 18053, sendo equipados com chassis Mercedes-Benz OF-1620 ano/modelo 1995/96.


Resistência

A matéria exibida ontem no MOB Ceará, é uma prova do poder do Caio Vitória, que é mantido em operação até os dias de hoje pela Viação Penha de Maranguape (CE), em um total de cinco unidades na frota da empresa. No Brasil também existem muitos ônibus deste modelo em circulação, com seus quase trinta anos de estrada.


Além dos Vitórias da Penha, diversos outros ônibus com esta carroceria fazem fretamento e transporte de funcionários em Fortaleza e região metropolitana, sendo que, muitos deles tem história no SIT, como o exemplo da foto abaixo.

Ex Bons Amigos 05123/05423

Curiosidades da Carroceria

Uma dos detalhes interessantes do Caio Vitória é a possibilidade de dois níveis de altura da carroceria, que variam na dimensão da saia. Estas possibilidades visam atender algumas peculiaridades da construção de alguns modelos de chassi, como o Scania F-112/F-113 e Volvo B58/B10M.
 
Carroceria levemente mais alta, para "vestir" o chassi F-113

A Caio disponibilizava também alguns opcionais como itens de conforto, funcionalidade ou apenas estéticos. Piso, assentos, modelos de porta e diversos acessórios também faziam parte do catálogo da marca.
Um deles, por exemplo foi utilizado no último lote de aquisição do Vitória pela CTC em 1993, que era o belíssimo para brisa panorâmico, que melhorava sensivelmente a visibilidade dianteira, porém pouco a pouco, por causa de seu elevado custo, os vidros originais foram substituídos por exemplares bipartidos.

Outro opcional curioso do modelo é a porta pivotada que abria para dentro do ônibus, que era disponível originalmente no antecessor Caio Amélia. Ela era solicitada por empresas que não quiseram aderir ao modelo de porta basculante, diminuindo também, o setor do almoxarifado voltado às portas.

Algumas empresas no Ceará optaram pelas portas do Amélia, como a Transpessôa e a São José de Ribamar.


No Vitória produzido pela Caio Norte em 1995, a traseira passou a ser construida em uma única peça em fibra de vidro, dispensando o alumínio em parte dessa região (exceto para as versões com motor traseiro), o que, certamente, diminuiu diversos custos de produção, além de proporcionar um design mais limpo.


Grande sucesso de vendas em todo o Brasil, com qualidade de construção e elevada robustez, além de grande praticidade na manutenção da carroceria, o Caio Vitória teve sua produção encerrada há 20 anos, dando fim a uma marcante trajetória, e deixando o seu legado para a marca e para a indústria de ônibus.

Para os busólogos, é um modelo que deixa saudades pela sua marcante atuação em vários locais do país, sendo coadjuvante na história de vida de muitas pessoas.

Fonte: MOB Ceará

13 Comentários

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  1. Belíssima matéria, parabéns ao MOB Ceará, recordo que ainda criança chegaram alguns "Vitória' na Bons Amigos nos anos de 89/90 com numeração 105,149,150, e mais alguns outros que não lembro i número, onde neles era visível um adesivo com a seguinte mensagem;
    "ÔNIBUS NOVO LEVANDO O POVO", naquela época muitas empresas receberam veículos novos do modelo Caio Vitória.

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  2. Gostei de mais dessa matéria parabéns ao MOB pela matéria
    mais devo dizer que é triste nos dias atuais não termos mais CAIO VITÓRIA rodando nas ruas de Fortaleza, alias temos apenas aqueles que restaram de transporte particular, como eu gostaria de ver nas pinturas do novo SIT VARIOS caio vitória com mercedes benz, Volkswagen e volvo que voltou depois de tantos anos

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  3. Parabéns pela matéria. Simplesmente sensacional.

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  4. Que matéria interessante! Parabéns pela pesquisa e diagramação! Ficou excelente.

    Na última parte foi falado sobre as portas pivotadas que abriam para dentro, que eram opcionais. Lembro que a Empresa Vitória teve dois Caio/Vitória com esse tipo de porta. Os prefixos 94 e 95. Os demais tinham porta pantográfica ou pivotada com abertura para fora.

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  5. Depois dos CAIOS Amelia, Vitoria e Alpha, a CAIO nao foi mais a mesma...

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    1. Eu não contaria o Alpha de jeito nenhum! Foi a partir dele que a antiga Caio perdeu sua essência.

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  6. Duas carrocerias que marcaram a minha vida: Gabriela II e Vitória com portas de Amélia.
    Excelente matéria! Parabéns!

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  7. Caio vitoria e o urbanuss da busscar são inesqueciveis, principalmente com motor traseiro e piso rebaixado! Saudade

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  8. Eu tenho um excelente todo original ano 1991 em perfeito estado!!!!

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  9. Eu tenho um excelente todo original ano 1991 em perfeito estado!!!!

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  10. Lembro quando a viação sao jose da baixada fluminense apareceu com os primeiros caio Vitória!foi um evento:quase nenhuma empresa tinha!um visual que inspira outros modelos ate hoje como a janela da cabine enclinada e os múltiplos letreiros!!
    Caio amelia 1 e 2 e caio Vitória!inesquecíveis.

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  11. Parabéns a equipe mob vale a pena recordar👏👏👏

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