O alto custo do conforto

Plataformas superlotadas e filas conturbadas afastam usuários do transporte coletivo dos terminais de ônibus de Fortaleza. A parada mais próxima exige o pagamento de outra passagem, mas oferece maior tranquilidade.

O relógio marca 6h30min de terça-feira. Parada de ônibus em frente à Igreja do Parque São José, próximo ao terminal do Siqueira, aglomera dezenas de pessoas. São usuários do transporte coletivo urbano, fugidos das plataformas lotadas do Siqueira. Pessoas em situação semelhante existem em, pelo menos, quatro dos sete terminais da Capital. O POVO visitou arredores do centros de transporte coletivo da Parangaba, Messejana, Antônio Bezerra e Siqueira. Das 6h30min às 7h30min, paradas próximas com linhas em direção ao Centro ou à Aldeota estão abarrotadas.

Motivos para o gasto extra se repetem nos discursos: desorganização nas filas, atrasos no trabalho ou na faculdade e mesmo acidentes em decorrência dos empurrões. O servidor geral Itamar Silva, 45, pratica a arte de evitar o terminal da Parangaba há três anos. Caminha até a avenida João Pessoa, com bastante companhia, e se junta à espera da parada. “Até já caí por causa dos empurrões na fila (do terminal). O joelho inchou. Não é certo, aquela confusão”, lamenta reticente Itamar.


Os terminais de ônibus fortalezenses começaram a ser inaugurados em julho de 1992. À época, ofertavam pontos de convergência entre 128 linhas de transporte coletivo urbano. Dezenove anos e nenhuma ampliação física depois, os sete terminais juntos convergem 252 linhas abarrotadas nas mesmas plataformas do início. Em fevereiro deste ano, foram 986.165 idas e vindas diárias envolvendo os centros de transporte coletivo.

O POVO questionou à Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) quantas viagens ocorrem durante os horários de pico - entre 5h e 8 horas, entre 17h e 20 horas -, porém o órgão não soube informar.



No limite
O fenômeno dos fujões de terminal é conhecido da Etufor, embora o órgão não saiba quantificá-lo. “É opção do usuário. O Sistema (Integrado de Transporte) oferece opção mais em conta, quem paga a segunda passagem paga pelo conforto”, contesta diretor-presidente da Etufor, Ademar Gondim.

O professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará, Mário Azevedo, tem visão um tanto distinta: “Se não chegaram, os terminais de Fortaleza estão muitos próximos de chegar à capacidade limite. Quando a pessoa sai do terminal para procurar a parada do lado de fora, mais vaga, ela dobra o próprio gasto para tentar solucionar o problema. Mas, nesse caso, a solução é individual”, atesta. Solução individual, problema coletivo.
Os sete terminais de ônibus fortalezenses foram criados na década de 1990 para interligar as seis Regionais da Capital e diminuir tempo e custo do transporte coletivo. Quase vinte anos e nenhuma ampliação depois, esses locais sofrem com superlotação de linhas e de passageiros.

OS CIDADÃOS
Os três passageiros se disseram insatisfeitos e deram notas para os terminais que frequentam:

NOTA 2 (Messejana)

Homem que é homem
Henrique ganha passagem extra da empresa para sair do terminal da Messejana e embarcar em outro ônibus. “Se não, chego atrasado e estressado demais. Se homem que é homem não consegue subir, avalie como é horrível!”.
Henrique Albuquerque, 38 anos, caixa

NOTA 3 (Siqueira)

Vá de táxi!
Cíntia se arrisca na pista da avenida Osório de Paiva para não correr risco de perder a oportunidade de ir sentada. “É o jeito”. A segunda passagem, paga do próprio bolso. “Dia desses, o motorista reclamou: ‘Quer conforto, vá de táxi!’”.
Cintia Ribeiro, 22 anos, atendente de telemarketing

NOTA 6 (Parangaba)

Desrespeito
“Não posso estar satisfeita com o serviço. Atrasos, paradas queimadas, desorganização nas filas...”, sentencia Andréia. Toda manhã, a moça sai do terminal da Parangaba para parada com direção à Aldeota.Andréia Gurgel, 26 anos, auxiliar administrativa

PIORES LINHAS

Terminal do Ant. Bezerra
(052) Grande Circular 02
(026) Antônio Bezerra/Messejana
(028) Antônio Bezerra/Papicu
(079) Antônio Bezerra/Náutico

Terminal do Conj. Ceará
(076) Conjunto Ceará/Aldeota
(045) Conjunto Ceará/Papicu (via Montese)

Terminal da Lagoa
(024) Antônio Bezerra/Lagoa/Unifor
(025) Lagoa/Opaia
(069) Lagoa/Papicu
(085) Lagoa/Aldeota/Av. José Bastos

(067) Lagoa/Albert Sabin

Terminal Papicu
(027) Siqueira/Papicu (via Aeroporto)
(052) Grande Circular 02
(810) Papicu/Praia do Futuro
(841) HGF/Papicu
(832) Papicu/Cidade 2000
(804) Aldeota

Terminal de Messejana
(650) Messejana/Centro/Br. nova/Expresso
(053) Messejana/Papicu (via Washington Soares)
(026) Antônio Bezerra/Messejana

Terminal da Parangaba
(072) Antônio Bezerra/Parangaba
(044) Parangaba/Papicu(via Montese)

(038) Parangaba/Papicu (via Santos Dumont)
(077) Parangaba/Mucuripe
(029) Parangaba/Náutico

Terminal do Siqueira
(051) Grande Circular 01
(073) Siqueira/Mucuripe
(355) Siqueira/Av. José Bastos
(050) Siqueira/Papicu (via Washington Soares)'

Fonte: Janaína Brás

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